sábado, 10 de maio de 2014

Follow my blog with Bloglovin

O PORTUGUÊS É O MELHOR IDIOMA PARA A MÚSICA?

A pergunta parece chacota, mas foi levada a sério por um escritor norte-americano apaixonado pelo Brasil







O escritor Mose Hayward é um norte-americano apaixonado pelo Brasil. Nascido em Iowa, foi bolsista Fullbright em escrita dramática em Barcelona, viveu no Brasil, perambulou por New York, Berlin, Tirana, Edimburg, Belgrado, São Petersburg e Istambul. Vive hoje em Paris. Mas nem sempre. Fluente em catalão, francês, português e espanhol, com italiano decente e um russo falsete, se vira em sérvio e alemão.
De idosos da Albânia a adolescentes na Espanha, chafurda personagens e hábitos de festas, diversão, bebida e fornicação de várias partes do mundo, que registra no divertido blog Tipsy Pilgrim (http://tipsypilgrim.com), um site de variedades mundiais sobre a vida hedonista contemporânea, a cultura do álcool, do sexo e da alegria em várias partes do planeta.
Em 12 de setembro de 2013, Hayward postou sua própria teoria sobre (eis o título): WHY PORTUGUESE IS THE BEST LANGUAGE FOR MUSIC (Por que o português é o melhor idioma para a música). A proposta parece chacota, feita por um analista não profissional de música e de idiomas, mas o texto tem a seriedade do observador atento, mas não leviano.
"Eu aprendi português simplesmente para entender minhas canções favoritas", diz Hayward ao apresentar suas teses sobre o que faz do português um idioma ideal a quem faz música. Suas justificativas, para tanto, são arroladas abaixo, como descreverei:

A VARIEDADE DE SONS VOCÁLICOS

O português emprega uma variedade enorme de sons vocálicos. Lembre-se que uma vogal é o que acontece quando você empurra o som para fora da sua garganta, sem bloqueá-lo com a língua, os dentes, os lábios, etc. ( O bloqueio ou controle do som cria uma consoante).
Para começar, há vários sons básicos de vogal única ("dígrafos"). Compare o que seu aparelho fonador pode fazer, por exemplo, ao falar português, com o que acontece quando você emprega seu primo menos interessante, o espanhol. E essas vogais básicas são realmente só o começo. Algumas delas são ocasionalmente pronunciadas pelo nariz (ou seja, as vogais nasais). Algumas delas são pronunciadas tanto na versão "fechada" quanto "aberta" (isso pode ser muito difícil para falantes do inglês dominar). Por fim, o português também usa ditongos (duas vogais juntas) e até tritongos (um conjunto de três, muito engraçado para estrangeiros).
Um exemplo de tritongo: "Ele delinquiu".
As vogais são muito importantes para os cantores porque é quando eles abrem mais a garganta. E, quando eles querem estender uma palavra, a maioria escolhe fazer isso na vogal.
Se você pudesse cantar em qualquer língua, você não iria preferir a grande variedade de opções de vogais que o português oferece? E não acha que um um cantor que cresceu falando com essa variedade de vogais teria uma intimidade maior e uma relação mais flexível com seu aparelho fonador?
Resumindo, se, realmente nossa língua tiver um vocabulário rico e uma atitude construída para celebrar  a musicalidade, devemos festejar e esperar novos cantores para propagandear nosso conjunto cultural e degustar deste dom !!


CULTURA DA EVOLUÇÃO LINGUÍSTICA LIVRE

A evolução das línguas mostra que uma pode sobrepujar outra ou não, em uma
verdadeira guerra biológica darwiniana ...

Taxar o falar diferente da norma padrão como desvio não é evidência de inferioridade intelectual, muito menos instrumento de luta de classes


Por um bom tempo, o falar diferente, que destoava do falar padrão dito culto, era considerado um erro e não havia discussão sobre esta questão. Deste modo, a sociedade se divida em duas: os que sabiam falar a própria língua e os que não sabiam.

Entretanto, com o advento da linguística evolutiva, da sociolinguística e, sobremaneira, dos estudos de WILLIAM LABOV sobre a variação, o chamado ERRO GRAMATICAL acabou sendo focado como um fato natural da linguagem. Não custa lembrar que, os linguistas histórico-comparativos do século XIX já premonizavam que O ERRO DE HOJE PODERÁ SER A NORMA GRAMATICAL DE AMANHÃ.

Mas esta visão benevolente e mais compreensiva do fato linguístico, levou alguns casos a uma confusão entre ERRO e EVOLUÇÃO: o desvio pode vir a tornar-se norma, mas não necessariamente se tornará. Como consequência de séculos de opressão da GRAMÁTICA TRADICIONAL e RETÓRICA, além da estigmatização da fala dos menos instruídos, alguns teóricos passaram a supervalorizar  o ERRO e a relativizar A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PADRÃO.



GRAMÁTICA PADRÃO DEVE SER REJEITADA
OU AJUSTADA AOS NOVOS TEMPOS DE MULTICULTURALISMO?

Acontece que a dinâmica da evolução linguística é mais complexa do que parece à primeira vista. A língua se apoia numa tensão dialética entre a conservação e a mudança: a todo momento, por força do próprio uso, algo muda na língua, mas a maior parte de seus elementos se conserva. Se nada mudasse, a língua seria estática, a fala ficaria "engessada", e o sistema rapidamente rumaria para a obsolescência; se tudo mudasse o tempo todo, ninguém mais se entenderia.

As forças da conservação e da mudança travam uma queda de braço permanente: toda inovação, seja ela lexical, sintática ou semântica, gera uma nova forma que tem de competir com as já existentes. Essa luta pode arrastar-se por décadas ou séculos. Ao final e cabo, a forma inovadora pode derrotar as até então estabelecidas, assim como pode acabar derrotada por elas, isto é, abandonada, como é o caso de muitas gírias efêmeras. 

GIRAFA LINGUÍSTICA

Fazendo uso de uma metáfora biológica, a inovação linguística (aí se inclui o chamado "erro" gramatical) é como uma mutação genética. Tal qual aconteceu com as girafas que, de pescoço curto, tiveram de, através de várias gerações, experimentar uma evolução genética e adquirir um pescoço longo, para poder sobrevive, à cata de alimentos no topo de árvores. Toda mutação surge num pequeno número de indivíduos; se este se impõe e transmite a despeito de resistências de outros seus gens a novas gerações, isto significará que o gens que era recessivo, passará a ser dominante. Isto ocorre no universo linguístico: a fala popular, assim como as línguas ágrafas e os dialetos, evoluiu de modo livre; já as chamadas línguas de cultura (dotadas de escrita formal) estão sujeitas à engenharia genética operada por escritores, jornalistas, intelectuais, gramáticos e professores.

LIBERDADE E CULTURA

Em última análise, o desvio da norma padrão, incluindo o chamado ERRO GRAMATICAL, não é bom nem mau - nem uma evidência da inferioridade intelectual do povo nem um instrumento de luta contra as classes dominantes - é apenas um fato natural a ser estudado cientificamente.