O texto da professora de Filosofia da USP, Marilena Chaui
pode ser dividido em três grandes partes que conversam entre si, tecendo considerações
que nos levarão a uma conclusão geral. Como boa filósofa, ela se apropria da
dialética, ao lançar mão de uma tese, antítese e síntese.
Senão
vejamos. A primeira parte do texto evoca o significado do vocábulo CULTURA. Desde sua etimologia latina, que
tem um sabor e significado ligado ao campo, à agricultura, à formação de algo,
passando pelo conceito educacional de JARDIM DE INFÂNCIA, até materializar-se
no conceito de uma concepção de ideias, que embasa determinada sociedade. Deve-se
frisar que, o que a princípio era um vocábulo neutro, com o passar dos séculos,
ficou eivado de uma profunda conotação elitista, especialmente por parte da
intelectualidade europeia, que não via com bons olhos todas aquelas sociedades
que não tivessem três qualidades: a) Escrita, b) Estado constituído e c)
Mercado.
Neste
diapasão, ficamos nos questionando de como os iluministas, ou em bom alemão,
adeptos do AUFKLÄRUNG, veriam os atuais países africanos que, mesmo tendo
um estado minimamente constituído, carecem de mercado e compõem-se, em sua
grande parte, por uma população analfabeta, perfazendo uma sociedade ágrafa. Seguramente,
os veriam como países incultos e não merecedores do epíteto de pertencentes ao
mundo ocidental.
A segunda
ideia que perpassa o texto é a democracia. Chaui debate como, nos dias atuais,
pode haver uma abertura do estado (uso estado em letra minúscula, pois acho que
ele não se constitui como poder dominante, mas sim constituído por nós, Povo!)
para a participação do povo nas políticas públicas culturais. O cuidado se
deve, frisa Chaui, em não deixar que a hegemonia estatal prevaleça, impondo um
pensamento único, unilateral, voltado para o capital que está por detrás de
toda INDÚSTRIA CULTURAL. O que se impõe é: na sociedade, os bens culturais são
vendidos, e quem escolhe o que é bom ou ruim é a elite dominante, desprezando a
chamada baixa cultura, e glamorizando a cultura de elite. Como o estado pode
remediar esta situação?
Finalmente,
last but not least, o tópico participação emerge do texto da filósofa como
solução para a antítese apresentada. Existem uma diferença gritante entre os
conceitos COMUNIDADE e SOCIEDADE. Enquanto a primeira prioriza laços
sanguíneos, de parentesco, a segunda se forma pela imposição de várias pessoas,
sem a argamassa necessária para se “colarem”, viverem juntas. Ora, a primeira é
uma característica do tempo primitivo, ao passo que a segunda é dos tempos
atuais, da era capitalista, individualista e da indústria cultural. Como
pode-se proporcionar a participação da sociedade na cultura atual, quer seja
ela de elite (alta cultura) ou popular (baixa cultura)?
Fortalecendo-se
vínculos comunitários, eis a resposta. Trocar a ideia de processo civilizador,
proposto por NORBERT ELIAS, pela noção de PROCESSO HUMANIZADOR, ao ver no ser
humano alguém que assemelhe-se a nós. Priorizar a vida, em última instância.
Podemos citar, à guisa de ilustração, a triste situação da Nigéria, país
africano, assolado por guerra civil, na qual bárbaros grupos de inspiração
islâmica, sequestram, matam, todos aqueles que, ao defender seu direito do
CONTRÁRIO, não aceitam “converter-se” a esta ideologia bárbara, ultrapassada e
sanguinolenta. A vida de mais de 300 meninas que foram sequestradas para serem
vendidas como escravas deve ser preservada, pois a VIDA deve ser defendida ...