sábado, 10 de maio de 2014

CULTURA DA EVOLUÇÃO LINGUÍSTICA LIVRE

A evolução das línguas mostra que uma pode sobrepujar outra ou não, em uma
verdadeira guerra biológica darwiniana ...

Taxar o falar diferente da norma padrão como desvio não é evidência de inferioridade intelectual, muito menos instrumento de luta de classes


Por um bom tempo, o falar diferente, que destoava do falar padrão dito culto, era considerado um erro e não havia discussão sobre esta questão. Deste modo, a sociedade se divida em duas: os que sabiam falar a própria língua e os que não sabiam.

Entretanto, com o advento da linguística evolutiva, da sociolinguística e, sobremaneira, dos estudos de WILLIAM LABOV sobre a variação, o chamado ERRO GRAMATICAL acabou sendo focado como um fato natural da linguagem. Não custa lembrar que, os linguistas histórico-comparativos do século XIX já premonizavam que O ERRO DE HOJE PODERÁ SER A NORMA GRAMATICAL DE AMANHÃ.

Mas esta visão benevolente e mais compreensiva do fato linguístico, levou alguns casos a uma confusão entre ERRO e EVOLUÇÃO: o desvio pode vir a tornar-se norma, mas não necessariamente se tornará. Como consequência de séculos de opressão da GRAMÁTICA TRADICIONAL e RETÓRICA, além da estigmatização da fala dos menos instruídos, alguns teóricos passaram a supervalorizar  o ERRO e a relativizar A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PADRÃO.



GRAMÁTICA PADRÃO DEVE SER REJEITADA
OU AJUSTADA AOS NOVOS TEMPOS DE MULTICULTURALISMO?

Acontece que a dinâmica da evolução linguística é mais complexa do que parece à primeira vista. A língua se apoia numa tensão dialética entre a conservação e a mudança: a todo momento, por força do próprio uso, algo muda na língua, mas a maior parte de seus elementos se conserva. Se nada mudasse, a língua seria estática, a fala ficaria "engessada", e o sistema rapidamente rumaria para a obsolescência; se tudo mudasse o tempo todo, ninguém mais se entenderia.

As forças da conservação e da mudança travam uma queda de braço permanente: toda inovação, seja ela lexical, sintática ou semântica, gera uma nova forma que tem de competir com as já existentes. Essa luta pode arrastar-se por décadas ou séculos. Ao final e cabo, a forma inovadora pode derrotar as até então estabelecidas, assim como pode acabar derrotada por elas, isto é, abandonada, como é o caso de muitas gírias efêmeras. 

GIRAFA LINGUÍSTICA

Fazendo uso de uma metáfora biológica, a inovação linguística (aí se inclui o chamado "erro" gramatical) é como uma mutação genética. Tal qual aconteceu com as girafas que, de pescoço curto, tiveram de, através de várias gerações, experimentar uma evolução genética e adquirir um pescoço longo, para poder sobrevive, à cata de alimentos no topo de árvores. Toda mutação surge num pequeno número de indivíduos; se este se impõe e transmite a despeito de resistências de outros seus gens a novas gerações, isto significará que o gens que era recessivo, passará a ser dominante. Isto ocorre no universo linguístico: a fala popular, assim como as línguas ágrafas e os dialetos, evoluiu de modo livre; já as chamadas línguas de cultura (dotadas de escrita formal) estão sujeitas à engenharia genética operada por escritores, jornalistas, intelectuais, gramáticos e professores.

LIBERDADE E CULTURA

Em última análise, o desvio da norma padrão, incluindo o chamado ERRO GRAMATICAL, não é bom nem mau - nem uma evidência da inferioridade intelectual do povo nem um instrumento de luta contra as classes dominantes - é apenas um fato natural a ser estudado cientificamente.


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