segunda-feira, 23 de setembro de 2013

TÍTULO:  CAMINHO DE INCLUSÃO PARA ALÉM DA ESCOLARIZAÇÃO :  EJA PROFISSÕES

INTRODUÇÃO
A Fundação Municipal para Educação Comunitária- FUMEC vem desenvolvendo um trabalho de alfabetização de Jovens e Adultos e de qualificação profissional, atendendo a população mais carente da periferia da cidade, abrindo salas de aula nos locais onde  é solicitado por alunos e professores alfabetizadores da EJA.
Os profissionais da FUMEC sempre foram mais acolhidos nos espaços comunitários do que propriamente nas escolas públicas. E nesses espaços pode-se atender devidamente  essa clientela no bairro onde residem.
Essa inserção na comunidade, além da escola caracteriza uma perspectiva de educação sociocomunitária que já tem uma história sólida e reconhecida em outros países e aqui no Brasil, ainda se luta por reconhecimento.
Ela entra no cenário brasileiro mais fortemente na década de 1960, com Paulo Freire nos moldes da educação popular numa proposta educacional essencialmente humanista. Valoriza em primeiro lugar a formação integral do homem, sua cultura, emancipando os sujeitos para a transformação da sociedade e sua ênfase política recai principalmente sobre os direitos dos oprimidos ao conhecimento respeitando os seus  valores, interesses, necessidades sociais, culturais e políticas.
A preocupação da verdadeira educação sociocomunitária está com os modos das intervenções educacionais, para discutir o tipo de sociedade e cidadão que se deseja “estabelecer” no mundo de hoje.
Com a diversidade de situações e com o avanço tecnológico de um mundo globalizado, a exclusão social vem se reafirmando e tomando dimensões cada vez mais complicadas, pois os conflitos sociais também se avolumam chegando ao ambiente escolar. Diante de um quadro de destruição social, violação dos direitos humanos e condições precárias quanto a projetos políticos, diversidades de interesses os sujeitos ficam muito vulneráveis para viver dentro das regras competitivas e injustas da vida social. O campo educacional traz a contradição entre a transformação e a reprodução, e  hoje se configura numa necessidade de reorganizar a sociedade numa organização da própria vida dos sujeitos.


OBJETIVOS:
Pretende-se discutir conscientizar sobre os problemas e desafios da  Educação de Jovens e Adultos EJA Região Metropolitana de Campinas, trazendo a experiência da cidade de Campinas num trabalho que acontece há 25 anos  e que vem se estruturando no decorrer dos anos, e especialmente a EJA PROFISSÕES que acontece aproximadamente a 3 anos através da Fundação Municipal para Educação Comunitária- FUMEC em parceria com a CEPROCAMP- Centro de Educação Profissional de Campinas “Prefeito Antônio da Costa Santos”.
Enquanto educadores, trazemos muitas inquietações quanto aos novos rumos da EJA- Educação de Jovens e Adultos no Brasil e temos buscado fundamentar nossas práticas no legado freiriano e nas novas propostas de educação para além da escolarização, tendo como o eixo central o educando e a construção de conhecimento juntos professor e aluno bem como reflexões e conscientização para melhoria da qualidade de vida.
No que diz respeito às políticas,  a Educação de Jovens e Adultos  esteve sempre subjugada à boa vontade política da administração pública e  devido a outras  prioridades, sempre esteve relegada a segundo plano. Temos uma história sofrida de grandes lutas para pequenas conquistas que seriam “de direito” dos nossos alunos.
Torna-se um grande desafio trazer uma demanda existente para serem alfabetizados, evitar o número de evasão escolar, garantir minimamente uma formação continuada para os professores que chegam na EJA com todo repertório de uma educação voltada à alfabetização de crianças, por isto é fundamental  uma educação de qualidade, voltado para a realidade do educando, e a EJA PROFISSÕES veio colaborar para que isto ocorra.










MÉTODOS E MATERIAIS
A FUMEC atende a uma clientela bastante diversificada quanto à faixa etária tanto àqueles que foram excluídos da escola, ou que nunca puderam ter acesso a ela, como os deficientes, que muitas vezes foram recusados na escola regular, e os indivíduos da terceira idade, que vêm realizar o sonho de estar na escola e também em Projeto especial dentro de instituições de reabilitação para dependentes químicos, para moradores de rua, pacientes da saúde mental, em especial a EJA PROFISSÕES uma parceria entre FUMEC onde os professores de alfabetização e profissionais de diversas áreas como engenheiros, psicólogos e outros da CEPROCAMP em dupla docência  proporcionam  aos nossos alunos diversos cursos como o de Elétrica  - pequenos reparos,  Inclusão Digital, as aulas são no laboratório de informática, e a proposta é integrada ao Projeto Pedagógico de cada unidade escolar integrando os temas abordados em sala em sala de aula, palavras geradoras do cotidiano como: direitos, deveres, leis trabalhistas, trabalho doméstico, profissão – Aprender a Empreender – um curso bem diversificado com metas diferenciadas conforme o interesse do educando e da escola, podendo  ser desde  a construção  de objetos para venda e consumo próprio de flores em diversos produtos tais como: chaveiros, tiaras, colares, enfeites, imãs de geladeira,  prendedores de cabelo, broches, etc com o objetivo de analisar produto/valor/custo/benefício  visando riscos, trabalho, aprendizagem, determinação, empresa, produto, autoconfiança, empreendedorismo, bem como a construção junto aos alunos de um plano de negócio, abordando temas relacionados ao mundo do trabalho, leis trabalhistas, tipos de empresa, micro empreendedor individual e dos trabalhadores,   bem como digitação e formatação do currículo e o principal esclarecer dúvidas do educando, como organizar a vida, saber gastar, investir, economizar e o mais importante: saber viver e acreditar que todos nós somos capazes de mudar a nossa vida, – Cuidador de Idosos – curso voltado para a conscientização dos educandos  em relação ao tema  Velhice, como:  “envelhecer é diferente de  ser velho, envelhecer é um processo, ser velho é um estado” através de aula expositivas, palestras, vídeos, slides, dinâmicas em grupo, dramatizações, relatos de experiências, conselhos, enfim diversas metodologias de modo a favorecer o diálogo tão importante na relação – aluno/professor.


RESULTADOS ESPERADOS

Tudo começa com a questão da formação do professor que não é contemplado com disciplinas específicas de EJA e não compreendem o processo de aprendizagem diferenciado do adulto adaptando metodologias infantis. Em toda rede de ensino encontramos poucos professores capacitados metodologicamente para serem alfabetizadores de fato e quando se trata do aluno adulto o problema se torna ainda mais complexo.
Igualmente, é essencial que a modalidade de EJA, seja fundamental ou médio, reconheça os diferentes tempos e espaços dos seus educandos. Na EJA, precisamos ter clareza sobre quem são os sujeitos do processo de ensino-aprendizagem e quais os seus interesses, necessidades e demandas em termos de tempos e formatos de estudo. Em outras palavras, a EJA precisa de um projeto pedagógico específico pensado a partir da realidade do educando que procura a garantia do seu direito à educação. (Maria Clara de Pierro, 2012).
O tempo de aprendizagem desse aluno adulto que não teve acesso à escola ou saíram dela como fracassados e expulsos é bem maior, pois se torna desafiador para o educador fazer com que esse educando passe a acreditar em suas próprias possibilidades.
O jovem e adulto pode ter mais dificuldade inicialmente em aprender novos conhecimentos e processos porque está afastado a tempo de processos mais formais, sistemáticos e organizados de aprendizagem, mas não existe nenhum impedimento neurológico para que continue o seu processo de aprendizagem. Aprender também é uma disciplina que precisa ser aprendida ou re-aprendida e que custa trabalho. Muitos adultos reclamam no começo que o estudo faz a cabeça doer. É igual como quando re-tomamos a atividade física depois de um período sem nos exercitar, o corpo dói! (Maria Clara Pietro, 2012)
Já se percebe que a EJA tem uma especificidade que necessita flexibilizar tempos, modos e espaços para que todos possam ser efetivamente incluídos nesse processo educacional e na reconstrução dos saberes um currículo para além da escolarização.
Para uma inserção autônoma e criativa nesse universo, são necessários processos mais alongados de escolarização. A diversidade abrange jeitos de ser, viver, pensar, agir, que se enfrentam.
A EJA a partir de suas diferenças se volta para uma proposta que inclua todas as suas expectativas e se volta para a formação humana num projeto para dar conta de suas necessidades, desejos, resistências e utopias.
A EJA, na medida em que se afirma a igualdade de todos como sujeito de direito, nega a forma de pensar de uns valem mais do que os outros, enfrentando as desigualdades como desafios a serem superados pela sociedade brasileira. Potencializar a diversidade na educação pode contribuir para a transformação social e para a formulação e execução de propostas educativas em que esses sujeitos de energia, imaginação e criatividade estejam no centro, com seus desejos, necessidades e expectativas de educação, cultura, saberes e práticas – um dos meios imprescindíveis à humanização não só de suas vidas, como toda sociedade brasileira.     A diversidade transformada em desigualdade tem assumido um duro papel para a cidadania em toda a história brasileira. (VI CONFITEA, 2009, grifo nosso)



A diversidade implica em especificidades no atendimento aos adolescentes no período de tratamento ao uso das drogas que estão impossibilitados de frequentar a escola, adolescentes em liberdade assistida, doentes mentais impossibilitados de frequentar a salas de aula devido ao tipo de transtorno, presidiários que estão em regime semiaberto, locais de abrigo a adolescentes, idosos, moradores de rua, portadores do vírus HIV e outros.
Para além dos instituídos, cabe instituir tempos e espaços outros de forma a atender a diversidade de modos pelos quais jovens e adultos podem estar na escola, sem acelerar ou aligeirar processos de aprendizagem dos educandos, mas ampliando e socializando saberes. São as necessidades da vida, desejos a realizar, metas a cumprir que ditam as disposições desses sujeitos e, por isso, a importância de organizar e assegurar tempos e espaços flexíveis, em todos os segmentos, garantindo o direito á educação e aprendizagens ao longo da vida. (VI CONFITEA, 2009, grifo nosso)

          A educação precisa ter em vista a emancipação, autonomia e qualidade de vida dos sujeitos e não somente para a sua reinserção no mercado de trabalho, elaborando projetos de qualidade, que vai além da escolarização, formando sujeitos para a vida, com independência, metas e projetos de vida, valores humanos, conscientizar de seu papel de pessoa humana e como cidadão.

REFERÊNCIAS:
ASMANN, Hugo “Reencantar a Educação” 1998
BISSOTO, M.L. e GUIMARAES, V.C. “Analfabetismo Funcional, empregabilidade e Exclusão social” In Pedagogia social: Educação e Trabalho na Perspectiva da Pedagogia Social –São Paulo- Expressão e Arte Editora vol. 4, 2011.
GONÇALVES, Luiz Gonzaga “Práticas Não escolares e Inclusão”   In Salto para o Futuro Educação ao longo da vida, Ministério da Educação Ano XIX nº 11 setembro de 2009 ISSN 1982-0283
OLIVEIRA, Ivanilde Apoluceno “ Educação de Jovens e Adultos e Idosos”  In Salto para o Futuro Educação ao longo da vida, Ministério da Educação Ano XIX nº 11 setembro de 2009 ISSN 1982-0283
Entrevistas da TVescola:  Ireland, Timoty e Pierro, Maria Clara.
In fonte: htpp://revistaescola.abril.com.br/pliticas-publicas/modalidades/eja-tem-agora-objetivos-maiores-alfabetização-476424.shtml
Documentos:
        VI Conferência Internacional de Educação de Adultos – CONFITEA, 2009
        Declaração Mundial sobre Educação para Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem Jomtien, Tailândia, 1990 ED/90/CONF/205/1 UNESCO 1998



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