TÍTULO: CAMINHO DE
INCLUSÃO PARA ALÉM DA ESCOLARIZAÇÃO :
EJA PROFISSÕES
INTRODUÇÃO
A Fundação Municipal para Educação Comunitária- FUMEC vem
desenvolvendo um trabalho de alfabetização de Jovens e Adultos e de qualificação
profissional, atendendo a população mais carente da periferia da cidade,
abrindo salas de aula nos locais onde é
solicitado por alunos e professores alfabetizadores da EJA.
Os profissionais da FUMEC sempre foram mais acolhidos nos
espaços comunitários do que propriamente nas escolas públicas. E nesses espaços
pode-se atender devidamente essa clientela
no bairro onde residem.
Essa inserção na comunidade, além da escola caracteriza
uma perspectiva de educação sociocomunitária que já tem uma história
sólida e reconhecida em outros países e aqui no Brasil, ainda se luta por
reconhecimento.
Ela entra no cenário brasileiro
mais fortemente na década de 1960, com Paulo Freire nos moldes da educação
popular numa proposta educacional essencialmente humanista. Valoriza em
primeiro lugar a formação integral do homem, sua cultura, emancipando os sujeitos
para a transformação da sociedade e sua ênfase política
recai principalmente sobre os direitos dos oprimidos ao conhecimento
respeitando os seus valores, interesses,
necessidades sociais, culturais e políticas.
A preocupação da verdadeira educação sociocomunitária está
com os modos das intervenções educacionais, para discutir o tipo de sociedade e
cidadão que se deseja “estabelecer” no mundo de hoje.
Com a diversidade de situações e com o avanço tecnológico de um
mundo globalizado, a exclusão social vem se reafirmando e tomando dimensões
cada vez mais complicadas, pois os conflitos sociais também se avolumam
chegando ao ambiente escolar. Diante de um quadro de destruição social,
violação dos direitos humanos e condições precárias quanto a projetos políticos,
diversidades de interesses os sujeitos ficam muito vulneráveis para viver
dentro das regras competitivas e injustas da vida social. O campo educacional traz
a contradição entre a transformação e a reprodução, e hoje se configura numa necessidade de
reorganizar a sociedade numa organização da própria vida dos sujeitos.
OBJETIVOS:
Pretende-se discutir conscientizar sobre os problemas e desafios
da Educação de Jovens e Adultos EJA
Região Metropolitana de Campinas, trazendo a experiência da cidade de Campinas
num trabalho que acontece há 25 anos e
que vem se estruturando no decorrer dos anos, e especialmente a EJA PROFISSÕES
que acontece aproximadamente a 3 anos através da Fundação Municipal para
Educação Comunitária- FUMEC em parceria com a CEPROCAMP- Centro de Educação
Profissional de Campinas “Prefeito Antônio da Costa Santos”.
Enquanto educadores, trazemos muitas inquietações quanto aos novos
rumos da EJA- Educação de Jovens e Adultos no Brasil e temos buscado
fundamentar nossas práticas no legado freiriano e nas novas propostas de
educação para além da escolarização, tendo como o eixo central o educando e a
construção de conhecimento juntos professor e aluno bem como reflexões e
conscientização para melhoria da qualidade de vida.
No que diz respeito às políticas, a Educação de Jovens e Adultos esteve sempre subjugada à boa vontade
política da administração pública e
devido a outras prioridades, sempre
esteve relegada a segundo plano. Temos uma história sofrida de grandes lutas
para pequenas conquistas que seriam “de direito” dos nossos alunos.
Torna-se um grande desafio trazer uma demanda existente para serem
alfabetizados, evitar o número de evasão escolar, garantir minimamente uma
formação continuada para os professores que chegam na EJA com todo repertório
de uma educação voltada à alfabetização de crianças, por isto é
fundamental uma educação de qualidade,
voltado para a realidade do educando, e a EJA PROFISSÕES veio colaborar para
que isto ocorra.
MÉTODOS E MATERIAIS
A FUMEC atende a uma clientela bastante diversificada
quanto à faixa etária tanto àqueles que foram excluídos da escola, ou que nunca
puderam ter acesso a ela, como os deficientes, que muitas vezes foram recusados
na escola regular, e os indivíduos da terceira idade, que vêm realizar o sonho
de estar na escola e também em Projeto especial dentro de instituições de
reabilitação para dependentes químicos, para moradores de rua, pacientes da
saúde mental, em especial a EJA PROFISSÕES uma parceria entre FUMEC onde os
professores de alfabetização e profissionais de diversas áreas como
engenheiros, psicólogos e outros da CEPROCAMP em dupla docência proporcionam aos nossos alunos diversos cursos como o de Elétrica - pequenos reparos, Inclusão Digital, as aulas são no laboratório de
informática, e a proposta é integrada ao Projeto Pedagógico de cada unidade
escolar integrando os temas abordados em sala em sala de aula, palavras
geradoras do cotidiano como: direitos, deveres, leis trabalhistas, trabalho
doméstico, profissão – Aprender a
Empreender – um curso bem diversificado com metas diferenciadas conforme o
interesse do educando e da escola, podendo ser desde a construção de objetos para venda e consumo próprio de
flores em diversos produtos tais como: chaveiros, tiaras, colares, enfeites,
imãs de geladeira, prendedores de
cabelo, broches, etc com o objetivo de analisar
produto/valor/custo/benefício visando
riscos, trabalho, aprendizagem, determinação, empresa, produto, autoconfiança,
empreendedorismo, bem como a construção junto aos alunos de um plano de negócio,
abordando temas relacionados ao mundo do trabalho, leis trabalhistas, tipos de
empresa, micro empreendedor individual e dos trabalhadores, bem como digitação e formatação do currículo
e o principal esclarecer dúvidas do educando, como organizar a vida, saber
gastar, investir, economizar e o mais importante: saber viver e acreditar que
todos nós somos capazes de mudar a nossa vida, – Cuidador de Idosos – curso voltado para a conscientização dos
educandos em relação ao tema Velhice, como: “envelhecer é diferente de ser velho, envelhecer é um processo, ser
velho é um estado” através de aula expositivas, palestras, vídeos, slides,
dinâmicas em grupo, dramatizações, relatos de experiências, conselhos, enfim
diversas metodologias de modo a favorecer o diálogo tão importante na relação –
aluno/professor.
RESULTADOS ESPERADOS
Tudo começa com a questão da formação do professor que
não é contemplado com disciplinas específicas de EJA e não compreendem o
processo de aprendizagem diferenciado do adulto adaptando metodologias
infantis. Em toda rede de ensino encontramos poucos professores capacitados
metodologicamente para serem alfabetizadores de fato e quando se trata do aluno
adulto o problema se torna ainda mais complexo.
Igualmente, é essencial
que a modalidade de EJA, seja fundamental ou médio, reconheça os diferentes
tempos e espaços dos seus educandos. Na EJA, precisamos ter clareza sobre quem
são os sujeitos do processo de ensino-aprendizagem e quais os seus interesses,
necessidades e demandas em termos de tempos e formatos de estudo. Em outras
palavras, a EJA precisa de um projeto pedagógico específico pensado a partir da
realidade do educando que procura a garantia do seu direito à educação. (Maria
Clara de Pierro, 2012).
O tempo de aprendizagem desse aluno adulto que não teve
acesso à escola ou saíram dela como fracassados e expulsos é bem maior, pois se
torna desafiador para o educador fazer com que esse educando passe a acreditar
em suas próprias possibilidades.
O jovem e adulto pode ter mais dificuldade inicialmente em
aprender novos conhecimentos e processos porque está afastado a tempo de
processos mais formais, sistemáticos e organizados de aprendizagem, mas não
existe nenhum impedimento neurológico para que continue o seu processo de
aprendizagem. Aprender também é uma disciplina que precisa ser aprendida ou
re-aprendida e que custa trabalho. Muitos adultos reclamam no começo que o
estudo faz a cabeça doer. É igual como quando re-tomamos a atividade física
depois de um período sem nos exercitar, o corpo dói! (Maria Clara Pietro, 2012)
Já se percebe que a EJA tem uma especificidade que
necessita flexibilizar tempos, modos e espaços para que todos possam ser
efetivamente incluídos nesse processo educacional e na reconstrução dos saberes
um currículo para além da escolarização.
Para uma inserção autônoma e criativa nesse universo, são
necessários processos mais alongados de escolarização. A diversidade abrange
jeitos de ser, viver, pensar, agir, que se enfrentam.
A EJA a partir de suas diferenças se volta para uma proposta que
inclua todas as suas expectativas e se volta para a formação humana num projeto
para dar conta de suas necessidades, desejos, resistências e utopias.
A EJA, na medida em que se afirma a igualdade de todos como
sujeito de direito, nega a forma de pensar de uns valem mais do que os outros,
enfrentando as desigualdades como desafios a serem superados pela sociedade
brasileira. Potencializar a diversidade na
educação pode contribuir para a transformação social e para a formulação e
execução de propostas educativas em que esses sujeitos de energia, imaginação e
criatividade estejam no centro, com seus desejos, necessidades e expectativas
de educação, cultura, saberes e práticas – um dos meios imprescindíveis à
humanização não só de suas vidas, como toda sociedade brasileira. A diversidade transformada em desigualdade
tem assumido um duro papel para a cidadania em toda a história brasileira. (VI CONFITEA,
2009, grifo nosso)
A diversidade implica em especificidades no atendimento aos
adolescentes no período de tratamento ao uso das drogas que estão
impossibilitados de frequentar a escola, adolescentes em liberdade assistida,
doentes mentais impossibilitados de frequentar a salas de aula devido ao tipo
de transtorno, presidiários que estão em regime semiaberto, locais de abrigo a
adolescentes, idosos, moradores de rua, portadores do vírus HIV e outros.
Para além dos instituídos, cabe instituir tempos e espaços outros
de forma a atender a diversidade de modos pelos quais jovens e adultos podem
estar na escola, sem acelerar ou aligeirar processos de aprendizagem dos
educandos, mas ampliando e socializando saberes. São as necessidades da vida,
desejos a realizar, metas a cumprir que ditam as disposições desses sujeitos e,
por isso, a importância de organizar e assegurar tempos e espaços flexíveis, em todos os segmentos, garantindo o
direito á educação e aprendizagens ao longo da vida. (VI CONFITEA, 2009, grifo nosso)
A educação precisa ter em vista a
emancipação, autonomia e qualidade de vida dos sujeitos e não somente para a
sua reinserção no mercado de trabalho, elaborando projetos de qualidade, que
vai além da escolarização, formando sujeitos para a vida, com independência,
metas e projetos de vida, valores humanos, conscientizar de seu papel de pessoa
humana e como cidadão.
REFERÊNCIAS:
ASMANN, Hugo
“Reencantar a Educação” 1998
BISSOTO, M.L. e
GUIMARAES, V.C. “Analfabetismo Funcional, empregabilidade e Exclusão social” In
Pedagogia social: Educação e Trabalho na Perspectiva da Pedagogia Social –São
Paulo- Expressão e Arte Editora vol. 4, 2011.
GONÇALVES, Luiz
Gonzaga “Práticas Não escolares e Inclusão”
In Salto para o Futuro Educação ao longo da vida, Ministério da Educação
Ano XIX nº 11 setembro de 2009 ISSN 1982-0283
OLIVEIRA,
Ivanilde Apoluceno “ Educação de Jovens e Adultos e Idosos” In Salto para o Futuro Educação ao longo da
vida, Ministério da Educação Ano XIX nº 11 setembro de 2009 ISSN 1982-0283
Entrevistas da
TVescola: Ireland, Timoty e Pierro,
Maria Clara.
In fonte:
htpp://revistaescola.abril.com.br/pliticas-publicas/modalidades/eja-tem-agora-objetivos-maiores-alfabetização-476424.shtml
Documentos:
VI Conferência Internacional de
Educação de Adultos – CONFITEA, 2009
Declaração Mundial sobre Educação para Todos: satisfação das
necessidades básicas de aprendizagem Jomtien, Tailândia, 1990 ED/90/CONF/205/1 UNESCO 1998
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