quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A Odisseia - uma viagem pelo mar revolto da ética e epistemologia grega até nossos dias



O episódio da descoberta da identidade de Ulisses pela escrava Euricleia.



Este belo texto foi pensado pela professora doutora Maria Luísa Bissoto, professora da Unisal das disciplinas Seminário de Pesquisa e Teorias Psicopedagógicas da Ação Educativa do curso de Mestrado em Educação da UNISAL- campus Maria Auxiliadora, Americana/SP. É altamente enriquecedor pensá-lo neste momento de pós-modernidade.

Odisseia – Ética e epistemologia

Menor  exercício do poder , por parte dos deuses, do que na Ilíada. Mais inconstante também. Homens deveriam ser piedosos, mas isso não lhes garante mais recompensas; seus conselhos devem ser observados, mas obedecê-los parece ser cada vez mais impossível.
Ulisses é filósofo, heroico, e mesmo sábio, homem de sofrimentos, que busca a superação para sua circunstancialidade; mas é também dono de uma personalidade desviante, engenhosamente mentiroso, satisfeito com sua própria esperteza.
Homero retrata o devir humano em sua complexidade, contrasta e contrapões pontos de vista, experiências, reflexões, em uma estrutura organizada e poética. Ulisses narra suas aventuras, suas “bravuras”, mas também reconhece seus erros e aqueles de seus companheiros.

A viagem

De Troia Ulisses encontra a terra dos Cicones, que ele se vangloria de saquear, avisa seus marinheiros para pararem a luta, mas eles não escutam e 6 marinheiros de cada navio são mortos.

O episódio com os Cíclopes

Ulisses reconhece que os infortúnios começaram, aqui, por sua PP culpa, sua insaciável sede por conhecimento, fazer amigos e ganhar/adquirir/meritar presentes/recompensas. Entra na caverna dos Cíclopes mesmo contra os pedidos da tripulação. Depois de uma perigosa escapada, ele ainda se vangloria frente aos Cíclopes  e mais, anuncia seu PP nome, facilitando a vingança dos Cíclopes que, em sabendo seu nome, dirigem-se a Poseidon para pessoalmente combatê-lo. Ao contrário do “truque” para sair da caverna: “quem está aí?”. Ninguém...Pensar no peso do nome, da autoria, do assumir o pp nome na produção/negação do conhecimento. Quem decide essa autoria sou eu, quem decide quem nomear sou eu...
Livro 5-
Ulisses está na Ilha de Calipso, fora dos limites do mundo conhecido, portanto, “sem fortuna, sem navios”, sem meios para orientar-se. Sem padrões ético-morais? Deve valer-se de seu engenho para sobreviver e retornar à casa.

No caso do saco dos ventos - Ulisses “erra’ POR NÃO CONFIAR EM NINGUÉM. Lhe apraz ter o domínio do conhecimento. Consequentemente, sua tripulação não confia nele, e passam a revistar sua bagagem. Às costas de Itaca, destino final, abrem o saco de ventos e são direcionados para longe dali. Ulisses controla seus sentimentos, sua frustração, e decide recomeçar a viagem. Decide tornar-se mais resistente,mais sábio, passando de um “rude bucaneiro” a um planejador e a um ser moralmente mais ético.


A passagem do canto das sereias na ilha de Circe.

No episódio com a maga Circe-  após resolver deixá-los ir Circe o avisa sobre o perigo representado pelas sereias, e ensina-o como resistir ao seu canto. Dessa vez Ulisses escuta e segue os conselhos de Circe ao pé da letra. Isso ilustra novamente o seu fascínio com o saber, com novas experiências, mas também sua maior prudência/humildade/sabedoria em lidar com a “aventura do conhecer”. Ela também o avisa que o enfrentamento de Scila e Caribidis acarretaria inevitavelmente perdas, “não há respostas boas para algumas perguntas/aproximações do conhecimento”. Ele descobre que “matar ou morrer”/estar certo ou errado não é mais uma opção. Há que saber se curvar às situações. O poder do conhecedor nem sempre vence, nem é possível no isolamento.
Na ilha de Trinasia, o gado do Sol- que não deve ser tocado. Novamente, em jogo a questão do restringir-se.
Toda a narrativa é marcada por avisos, conselhos, mas que não percebidos assim por Ulisses e sua tripulação, ou são percebidos tardiamente. Precisa estar-se aberto ao inesperado, às “pistas” que nem sempre são entendidas. Ulisses sobrevive aos companheiros/aventuras não porque é “abençoado”, protegido dos deuses, nem porque não comete erros, mas porque aprende com seus erros, adapta-se. Aprende a controlar seus impulsos  heroicos- derrotar aos inimigos, vencer pela força da verdade, salvar o mundo- e sua curiosidade- coloca limites ao saber. Mas tornou-se cada vez mais envolvido com si mesmo, ensimesmado, em solidão.
A  Odisseia está preocupada com a sociedade, com a preservação dos laços morais, de amizade, racionais e afetivos, que mantêm a sociedade unida.



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