O episódio da descoberta da identidade de Ulisses pela escrava Euricleia. |
Este belo texto foi pensado pela professora doutora Maria Luísa Bissoto, professora da Unisal das disciplinas Seminário de Pesquisa e Teorias Psicopedagógicas da Ação Educativa do curso de Mestrado em Educação da UNISAL- campus Maria Auxiliadora, Americana/SP. É altamente enriquecedor pensá-lo neste momento de pós-modernidade.
Odisseia – Ética e epistemologia
Menor exercício do
poder , por parte dos deuses, do que na Ilíada. Mais inconstante também. Homens
deveriam ser piedosos, mas isso não lhes garante mais recompensas; seus
conselhos devem ser observados, mas obedecê-los parece ser cada vez mais
impossível.
Ulisses é filósofo, heroico, e
mesmo sábio, homem de sofrimentos, que busca a superação para sua
circunstancialidade; mas é também dono de uma personalidade desviante,
engenhosamente mentiroso, satisfeito com sua própria esperteza.
Homero retrata o devir humano em
sua complexidade, contrasta e contrapões pontos de vista, experiências, reflexões,
em uma estrutura organizada e poética. Ulisses narra suas aventuras, suas
“bravuras”, mas também reconhece seus erros e aqueles de seus companheiros.
A viagem
De Troia Ulisses encontra a terra
dos Cicones, que ele se vangloria de saquear, avisa seus marinheiros para
pararem a luta, mas eles não escutam e 6 marinheiros de cada navio são mortos.
O episódio com os Cíclopes
Ulisses reconhece que os
infortúnios começaram, aqui, por sua PP culpa, sua insaciável sede por
conhecimento, fazer amigos e ganhar/adquirir/meritar presentes/recompensas.
Entra na caverna dos Cíclopes mesmo contra os pedidos da tripulação. Depois de
uma perigosa escapada, ele ainda se vangloria frente aos Cíclopes e mais, anuncia seu PP nome, facilitando a
vingança dos Cíclopes que, em sabendo seu nome, dirigem-se a Poseidon para
pessoalmente combatê-lo. Ao contrário do “truque” para sair da caverna: “quem
está aí?”. Ninguém...Pensar no peso do nome, da autoria, do assumir o pp nome
na produção/negação do conhecimento. Quem decide essa autoria sou eu, quem
decide quem nomear sou eu...
Livro 5-
Ulisses está na Ilha de Calipso,
fora dos limites do mundo conhecido, portanto, “sem fortuna, sem navios”, sem
meios para orientar-se. Sem padrões ético-morais? Deve valer-se de seu engenho
para sobreviver e retornar à casa.
No caso do saco dos ventos -
Ulisses “erra’ POR NÃO CONFIAR EM NINGUÉM. Lhe apraz ter o domínio do
conhecimento. Consequentemente, sua tripulação não confia nele, e passam a
revistar sua bagagem. Às costas de Itaca, destino final, abrem o saco de ventos
e são direcionados para longe dali. Ulisses controla seus sentimentos, sua
frustração, e decide recomeçar a viagem. Decide tornar-se mais resistente,mais
sábio, passando de um “rude bucaneiro” a um planejador e a um ser moralmente mais
ético.
A passagem do canto das sereias na ilha de Circe. |
Na ilha de Trinasia, o gado do
Sol- que não deve ser tocado. Novamente, em jogo a questão do restringir-se.
Toda a narrativa é marcada por
avisos, conselhos, mas que não percebidos assim por Ulisses e sua tripulação,
ou são percebidos tardiamente. Precisa estar-se aberto ao inesperado, às
“pistas” que nem sempre são entendidas. Ulisses sobrevive aos
companheiros/aventuras não porque é “abençoado”, protegido dos deuses, nem porque não comete erros, mas porque aprende com seus erros, adapta-se. Aprende a controlar
seus impulsos heroicos- derrotar aos
inimigos, vencer pela força da verdade, salvar o mundo- e sua curiosidade-
coloca limites ao saber. Mas tornou-se cada vez mais envolvido com si mesmo,
ensimesmado, em solidão.
A
Odisseia está preocupada com a sociedade, com a preservação dos laços
morais, de amizade, racionais e afetivos, que mantêm a sociedade unida.
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